19 de set. de 2008

Netto perde sua alma

Queridos,
aqui no sul o 20 de setembro é uma data especial, marca um relevante episódio na história do Rio Grande do Sul - a Revolução Farroupilha - que deixou muitas marcas no imaginário e na psicologia do povo gaúcho. O período de 14 à 20 de setembro, em nosso estado, chamamos de Semana Farroupilha e entre eventos nativistas, comemorações e homenagens, escuta-se e retrata-se a história do povo do Sul.

Este ano, dentro da programação da Assembléia Legislativa do Estado, estava a exibição do filme "Netto perde sua alma", dos diretores Tabajara Ruas e Beto Souza, um longa-metragem que recebeu 4 Kikitos de ouro no festival de gramado em 2001 - de melhor filme pelo voto do júri popular, melhor música, melhor montagem e o Prêmio Especial do Júri.

O filme narra a história do general Antônio de Souza Netto, que proclamou a República rio-grandense durante a revolução Farroupilha e foi o único chefe militar contra os termos de acordo de paz, que culminou com o seu auto-exílio no Uruguai. República? Sim, é um fato histórico não muito conhecido. Mas o filme, cuja narrativa usa o recurso do flash back, percorre o período de 1816 a 1866 e narra as guerras dos Farrapos e do Paraguai. Isso sim já estudamos na escola.

História de lutas, amor, aventura e liberdade, o filme, baseado no livro homônimo do escritor e jornalista Tabajara Ruas, recria a complexa personalidade do general Netto, protagonista central de dois episódios-chaves da história brasileira - a Revolução Farroupilha (1835-1845) e a Guerra do Paraguai (1861-1866) - comandando a sua cavalaria de gaúchos e lanceiros negros.

Embora não tivesse um perfil claramente definido como republicano, Netto era favorável às chamadas liberdades civis. Era contra a escravidão e nunca deixou de exercer sua liderança política. Apesar de tantas batalhas, o guerreiro, com porte de herói galante, encontrou tempo para casar, ter duas filhas e cuidar de sua estância em Piedra Sola, distrito de Tacuarembó, no Uruguai. O conflito do personagem com sua própria consciência, rememorando o período da República Rio-Grandense, proclamada por ele em 1836, após o combate do Seival, a derrota, o exílio e a solidão, são enfoques importantes do enredo que se passa no século XIX.

Me emocionei algumas vezes e fiquei pensando nesta terra pisada por tantos guerreiros, quanto sangue foi preciso derramar por um ideal de liberdade, as mulheres que durante muito tempo tocavam os ranchos e estâncias sozinhas, pegavam em armas para se defenderem ou inibirem a visita ou passagem de qualquer estranho, que esperavam em agonia a volta de seu esposo e/ou filhos, vivos ou mortos. Fiquei imaginando por onde já andei, quantos já passaram antes de mim... o filme, realmente, mecheu com meu imaginário e me fez refletir. Estou esperando pelo próximo Longa do Tabajara - Netto e o domador de cavalos - que conta a história do Negrinho do Pastoreio, que se passa no inicio da Guerra dos Farrapos...

Fui buscar saber a história dos Lanceiros Negros, já que tenho grande admiração e respeito por meus irmãos de pele negra, um povo que me passa força, bravura, que não esconde sua fé e sua alegria, que dança e canta para esquecer o sofrimento... quer melhor maneria de espantar o mal?

Caiu em minhas mãos uma leitura que conta a história dos Lanceiros, pesquisa realizada pelo Deputado Raul Carrion, qual não foi minha surpresa ao saber da grande presença e contribuição dos Negros na Guerra dos Farrapos. Porque não me falaram isto na escola? Porque esta parte da história foi escondida ou esquecida?

Os Lanceiros eram negros livres ou libertados pela República, "quando a guerra terminou, os Farrapos tinham duas divisões de negros em suas fileiras, uma de infantaria e outra de cavalaria, totalizando mil homens. De acordo com os cálculos do exército imperial, os negros compunham de um terço à metade do exército rebelde" (DACANAL, 1985, p. 65). Na escola não me falaram da "Surpresa dos Porongos", da traição que fez mais de 80 lanceiros negros mortos, em nome do tal "tratado de paz".


SALVE OS LANCEIROS NEGROS!
Presto minha homenagem à comunidade negra neste 20 de setembro e aos índios, mulatos e mulheres que lutaram com bravura, ao lado de generais e coronéis!

Ana Paula Nunes Andrade

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