7 de abr. de 2010

Entrevista de Sabrina Alves ao "Pranto da Terra"

Sabrina Alves é uma privilegiada pela diversidade cultural e espiritual. Nasceu no meio de mulheres que tiveram coragem de passar adiante seus ensinamentos. E aprendeu a sistematizar esse conhecimento aprendendo o gosto pela pesquisa com seu pai. Hoje é terapeuta, e desenvolveu uma forma de cuidar das mulheres de modo a lhes oferecer a opção da escolha pela liberdade de seus corpos e de suas expressões espirituais individuais. Dessa forma, sempre buscando fazer conexões e tecer teias de fortalecimento para as mulheres, foi posta em contato com a Deanna L'am dos EUA que mantinha viva a campanha “Menstrual Moonday”.

A primeira vez que se comemorou foi em 2000, idealizada por Genebra Kachaman e Molly Strange. Elas arrumaram um jeito de incentivar as mulheres a ritualizarem suas menstruações e o fizeram com manifestações artísticas. Na época, a campanha teve adesão da França, Canadá, Escócia e Quênia. Kachaman e Strange diziam que a intenção da campanha era criar um senso de diversão em torno de menstruação, para encorajar as mulheres a assumir a responsabilidade da sua menstruação e de saúde reprodutiva, para criar uma maior visibilidade da menstruação nos meios de comunicação social; e para reforçar a honestidade da menstruação em nossos relacionamentos. Desde 2008 Sabrina têm disseminado a idéia da campanha no Brasil e América Latina. Muitas mulheres têm participado, mas aqui houve a necessidade de mudar um pouquinho o nome, afinal o Brasil é um dos poucos países que não usa o dias da semana com nomes planetários: Segunda-feira, Moonday, seria “Dia da Lua”, por exemplo, mas sendo assim o nome da campanha aqui ficou Segunda Vermelha!

PRANTO DA TERRA: Porque “Segunda Vermelha/ Menstrual Moonday”? Qual a necessidade de um movimento para revalorizar a menstruação?

SABRINA ALVES: Se eu dissesse que a maioria das mulheres passa sua vida de “menstruantes” sem olhar seu próprio sangue você acreditaria? Pois é, não é permitido, um tabu social, moral e religioso falar em voz alta que se está menstruada. Se você falta ao trabalho no seu 1º dia de menstruação, e se isso se torna uma pratica mensal, você é chamada atenção. A indústria farmacêutica está preparada com um arsenal de opções para despistar os odores, as cólicas e todas as sensações que porventura façam com que os outros, e até você, percebam que está menstruada. Definitivamente, se vive em um mundo que não é permitido se menstruar. Se você menstrua demais toma anticoncepcional. Se você tem espinha, esta opção também lhe serve. Agora se você é dada a “alucinações”, histerias, sonambulismo... Melhor suspender, afinal você fica fora de controle e imprevisível. Só que não se lembram que menstruar significa estar fértil. E aí está a outra ponta do iceberg, fertilização para se engravidar. Bom, dá pra perceber que parece estarmos, tod@s, eu diria até os homens, sob a guarda de controle. Perdemos a responsabilidade com nossos corpos, e se isso aconteceu, significa dizer que tem alguém fazendo isso por nós.

Bom, eu sou suspeita para falar, afinal, acredito que as pílulas são uma forma de controle e domesticação. Mas quero deixar claro que sou completamente a favor da auto-gestação ginecológica, que inclui engravidar, ou não, quando se quiser. Bom, mas aí é outra historia. (risos). Diante desse quadro, dizer em caixa alta, em vermelho, pela net, na mídia às mulheres que, menstruação é vida, me parece a 1ª necessidade. A segunda e não menos importante, muito embora não seja o carro chefe da campanha geral, mas é na brasileira por que acho boa a oportunidade, é que nesse momento do mês as mulheres têm fantásticas oportunidades de se centrar em si mesmas, e desse ponto receber insights e orientações para suas vidas. E a 3ª, e bem pode não ser a última, é que a campanha fortalece o sentindo de vínculo, preenche o vazio comunitário de não estarmos mais em círculos ao luar e nem nos momentos da Lua Nova. Menstruar é importante. Fortalece a vida.

PRANTO DA TERRA: O movimento possui um sentido apenas espiritual e de auto-estima ou também é ativista ecológico e social, atuando nas escolas, e promovendo alternativas aos absorventes, por exemplo?

SABRINA ALVES: De modo geral, o sentido já quebra até mesmo os paradigmas do movimento Feminista. Afinal, mesmo que por vias da natureza, deixamos de ser iguais aos homens e, de certa forma, nos transformamos, em alguns momentos do mês, em seres com necessidades especiais. A diferença não é uma doença. É só uma outra condição. Seria a manifestação da chamada terceira onda, um ativismo menstrual. Então, o que quero dizer é que, a princípio, a idéia da campanha é fazer com que as mulheres olhem seus ciclos de forma saudável, e não repugnante. Se assim o fosse, já seria um grande ganho para todos, inclusive homens. Mas existem mulheres, e nessa classe eu me incluo, que usa de seus ciclos como uma forma de aperfeiçoamento espiritual, sim. Outras, não fazem esse link espiritual, mas o ecológico tendo como bandeira os absorventes ecológicos, e têm outras que fazem uso da campanha englobando todas essas vertentes, de novo, eu me incluo nessa última opção. Acho mesmo importante é que se comece a falar de forma aberta, clara, pensando até mesmo em novas possibilidades de significar a menstruação como algo importante na vida das mulheres e para tod@s que estão a sua volta. Acho que a grande importância dessa campanha é fazer com que as mulheres percebam que elas podem ser auto-gestionadas, de que elas são donas de seus próprios corpos. E ter noção de que se é dona de seu próprio corpo, é espiritual essa condição, pois se honra o fato de ser uma humana sadia, e se ritualiza esse fato. D'EU'ZAS!


PRANTO DA TERRA: Qual a posição das participantes diante da prática recente de “suspensão da menstruação”?

SABRINA ALVES: Bom, eu diria aos agentes de saúde (médic@s, cientistas, etc) responsáveis por criar essa possibilidade de castração às mulheres que estaríamos prontos para o próximo passo: humanos que não excretam. Isso em um nível físico, em se tratando de espiritual, estaríamos cada vez mais distante da sensação de plenitude que é ser parte da Unidade. Afinal, quem foi que falou que meus odores, fluidos e líquidos não são Divinos?

PRANTO DA TERRA: “Meninos” também podem participar? Como?

SABRINA ALVES: Nossa, era tudo que eu queria!!! Meu marido acha o máximo e apóia. Divulga entre as alunas. E você já é também outro exemplo de um de que homens se importam, sim, com o bem-estar fisico/emocional e espiritual das mulheres. Creio eu, por que entendem a importância para o amadurecimento planetário. Resumindo, por favor, meninos, homens, machos alfa, beta, gama, etc...

Um Feitiço: Escreva em um diário todos os meses o que sente ao estar menstruada. Pode ser qualquer coisa, não precisa ser poesia, poder ser palavrões inclusive. Pois o importante é você não ignorar o fato. Se você já se sente confortável com isso, pode ir ao próximo passo: todo mês celebrar, sozinha que seja, sua menstruação. De forma simples, mas bem conectada.

Pegue uma concha. Uma vela vermelha. Um pedaço de fita vermelha. Óleo de verbena ou de rosas. Esfregue as suas mãos umas nas outras até esquentar. Pingue gotas do óleo escolhido e esfregue na vela. Pegue o pedaço de fita e mentalizando aquilo que gostaria de recomeçar, ou finalizar, ou até mesmo dar início, dê um nó na vela. Acenda a vela, em um ambiente cuidadoso em cima da concha. Outra opção para as que já se sentem mais seguras é usar o sangue da própria menstruação. A força é grande.

Fonte: Segunda Vermelha

Dia 03 de maio
(((SEGUNDA VERMELHA)))
No CICC PAZ - Esteio/RS
Agende-se e convide as amigas!!!

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