Função e disfunção endócrinas
Charlene Day e Miriam Hawkins
Rede da Mulher – Saúde e Ambiente
Outono de 1999 (2º semestre/99).
Enquanto a história dos hormônios vai se complexando, cada vez é mais importante conhecê-la. As últimas décadas tornaram-se tão perigosas para nosso delicado sistema endócrino de tal forma que muitos médicos ainda não conseguem perceber. Novas substâncias químicas que geram disfunções hormonais presentes em nosso alimento, no baú de remédios e ao ambiente representam uma ameaça devastadora tanto para os seres humanos como para a vida selvagem. Barradas pela desinformação, pelas lendas e pela propaganda, não é de se admirar que a maioria de nós estejamos completamente confusas sobre nossa saúde pessoal e de nosso ambiente. No entanto como cidadãs informadas, podemos assumir cada vez maiores responsabilidades por nossa saúde e de nossas comunidades.
Este trabalho enfocará o hormônio feminino estrogênio ou estrógeno cujo papel central nesta discussão está relacionado a sua função no organismo e como nós podemos fazer muito mais pelo nosso próprio bem ou prejuízo. Milhares de medicamentos e produtos químicos sintéticos, de largo uso, são estrogênicos por natureza ou em seus efeitos. São disruptores hormonais e podem afetar seriamente nossa saúde e, muito mais, a de nossos descendentes. Estão conectados com os dramáticos crescimentos de efeitos como a infertilidade, das deformações genitais e dos cânceres de origem hormonal como os de mama e de próstata, bem como com a queda do número de espermatozóides, a hiperatividade e outros distúrbios neurológicos. Observou-se que “os produtos sintetizados pelo homem imiscuem-se em toda a sorte de mensagens hormonais” atingindo duramente as glândulas supra-renais e da tiróide, de acordo com Linda Birnbaum do US Environmental Protection Agency/EPA (Agência norte-americana de proteção ambiental). Níveis deprimidos de hormônios da tiróide foram conectados ao câncer de mama tanto como foi o aumento de estrogênio. [19]
A extensa exposição ao estrogênio, no decorrer da vida (especialmente nas formas sintéticas) é o maior fator de risco à saúde. Em alguns casos, existem escolhas mais seguras, efetivas e naturais de se fazer o balanceamento estrogênico no organismo. Químicos disruptores hormonais no ambiente são uma história bem mais complexa. Almeja-se que te tornes mais habilitada e utilizes estas informações para colocares sérios questionamentos àqueles que lidam com a saúde, a indústria e a administração pública para que investiguem métodos alternativos realmente seguros.
TIPOS DE ESTROGÊNIOS.
Existem quatro tipos de estrogênios: os que ocorrem naturalmente no organismo; os que são sintetizados para serem ingeridos como medicamento; os “xenoestrogênios” ou externos, gerados pelas modernas indústrias químicas e presentes em produtos de uso doméstico e os fitoestrogênios presentes em plantas alimentícias, muitos dos quais promovem importantes benefícios à saúde.
ESTROGÊNIOS NATURAIS.
Algumas das cinqüenta moléculas hormonais conhecidas carregam instruções de mais do que uma dúzia de tecidos e glândulas endócrinas para células distribuídas em todo o corpo para controlarem muitas funções orgânicas, incluindo a reprodução, o desenvolvimento sexual, o crescimento, a manutenção do metabolismo e respostas aos estímulos externos.
Os estrogênios naturais fazem parte de um grupo de vários hormônios esteróides lipossolúveis produzidos, primariamente nos ovários femininos e nos testículos masculinos (mas também em outros centros do organismo) em humanos e outros vertebrados, originários do colesterol ou acetil coenzima-A. Conhecidos como hormônios femininos (presentes mais plenamente nas mulheres), eles não só externalizam as características femininas e controlam os ciclos reprodutivos como geralmente também exercem influência sobre o crescimento, o desenvolvimento e o comportamento. Atuam também nos sistemas imunológico e cardiovascular além de influir na pele, nos ossos, no fígado e mesmo no cérebro, assegurando a normalidade nos sistemas orgânicos. Os estrogênios estimulam o crescimento dos tecidos ao promover a proliferação celular nos órgãos sexuais femininos (seios e útero), aumentando o tamanho das células (como durante a puberdade com o seio feminino e os músculos masculinos), e pela elaboração de proteínas específicas. Nos machos, desempenha um papel secundário em relação aos androgênios, destacadamente o hormônio testosterona que define as características masculinas (muito estrogênio pode feminilizar os machos). O tempo de exposição, no ciclo da vida, aos estrogênios naturais também varia de acordo com a dieta e os exercícios. A partir do estoque de estrogênios na gordura (especialmente abdominal), aumenta a exposição pela obesidade.
Somente três estrogênios estão naturalmente presentes em quantidades significativas: estradiol, estrona e estriol. O estradiol é o hormônio estrogênico mais abundante e potente. É doze vezes mais forte que o estrona e oitenta do que o estriol, um derivativo do estrona. Existem as “boas” e as “más” formas de estrogênios (as “más” podem desencadear o câncer). [5] O organismo busca manter ótimos níveis no sangue através das respostas das glândulas hipotálamo e pituitária aos níveis baixos, estimulando tanto os ovários femininos para secretarem estradiol e progesterona como os testículos masculinos a secretarem testosterona (em excesso transforma-se em estrogênios) até que um certo nível sangüíneo seja alcançado. Este elo de auto-alimentação é influenciado pelo fígado quando metaboliza do sistema, em algum tempo, alguns hormônios naturais desnecessários.
Antes do nascimento, ambos os hormônios, placental e fetal, atuam sobre o desenvolvimento do bebê. Para os machos, após a determinação cromossômica sexual lá pela sétima semana, a masculinização depende do correto suprimento de estímulos hormonais originários dos testículos. Nas fêmeas, os ovários desenvolvem-se do terceiro para o quarto mês quando sintetizarão estrogênios. No entanto quantidades mínimas de substâncias estrogênicas estranhas, em estágios críticos pré-natais, podem interferir nos desenvolvimentos sexual, reprodutivo, comportamental e neurológico. O livro “Our Stolen Future” de Theo Colborn e outros (nt.: publicado no Brasil pela L&PM Editores com o título “O Futuro Roubado”, em 1997), destaca: “ao mesmo tempo em que os hormônios estão conduzindo, pelo menos, alguns aspectos do desenvolvimento sexual, também orquestram o crescimento dos sistemas nervoso e imunológico dos nenês , programando órgãos e tecidos tais como fígado, sangue, rins e músculos com funções diferentes em homens e mulheres ..... Para todos estes sistemas, o desenvolvimento normal depende de haver a correta mensagem hormonal, na quantidade exata, no local adequado e no tempo certo .... Se alguma coisa gera disfunções neste fornecimento durante um período crítico do desenvolvimento, podem ocorrer conseqüências muito sérias para a prole.” Estrogênios e compostos que enganem os receptores estrogênicos são elementos chave em certos estágios, como nos primeiros anos de vida e novamente na puberdade quando uma crítica divisão celular ocorre.
Nas fêmeas, a puberdade, o ciclo menstrual, a gravidez e a menopausa são eventos importantes relacionados aos estrógenos. Em torno dos dez anos, o hipotálamo estimula os ovários a produzirem estrogênio e progesterona que ativam mudanças físicas tais como a formação dos seios, o crescimento dos pelos pubianos, aumentando a altura e o peso além de alterações na pele. Normalmente, a menstruação principia aos doze anos. Hormônios são liberados, em drásticos diferentes níveis, durante o ciclo menstrual de vinte e oito dias. Para os primeiros oito dias indo até o décimo primeiro, os ovários produzem grandes quantidades de estrogênio, declinando no décimo terceiro dia quando a progesterona começa a aumentar e a ovulação acontece (a progesterona causa a libido ovular). Depois de dez ou doze dias se a fertilização não ocorre, a progesterona ovariana cai dramaticamente, desencadeando a menstruação e o ciclo se renova. No entanto, se ocorre a fertilização, um bloqueio do estrogênio precede uma gestação rica em progesterona que mantém a gravidez e matura, permanentemente, as células do seio (a dividir-se mais lentamente). Por vários meses depois do parto, o fluido dos seios tem baixos níveis de estrogênio. A gravidez, antes dos trinta anos, parece proteger as células das mamas das mudanças anormais que podem ser causadas pelos excedentes de estrogênios e dos disruptores hormonais. A progesterona se opõe à ação do estrogênio de estimulador do crescimento no organismo.
Entre quarenta e cinqüenta anos, a interação entre os hormônios se altera, propiciando o aparecimento da menopausa. Como menos folículos ovulares são estimulados, a quantidade de estrogênio e progesterona produzidos pelos ovários declina. A menstruação torna-se falha e errática, eventualmente cessando. Entretanto, em outras áreas do corpo, como as glândulas supra-renais, a pele, os músculos, o cérebro, a glândula pineal, os folículos capilares e gordura corporal, são capazes de produzir nossos hormônios, possibilitando ao organismo feminino fazer ajustes saudáveis no balanço hormonal após a menopausa. Isto ocorrerá com as mulheres que cuidaram de si durante o período pré-menopausa com um estilo de vida sensato, dieta alimentar, e atenção às saúdes mental e emocional. Entre outros fatores, a obesidade e a vida sedentária promovem uma puberdade precoce e uma menopausa tardia, aumentando enormemente tanto a exposição ao “mau” estrogênio como aos riscos correspondentes.
ESTROGÊNIOS SINTÉTICOS.
Os estrogênios sintéticos, encontrados em produtos farmacêuticos, “tiveram suas estruturas moleculares alteradas somente para poderem ser patenteados. Eles têm a tendência de ser mais potentes do que os estrogênios do próprio corpo e mais tóxicos”. [12]
A PÍLULA.
Hoje, são milhões de mulheres que tomam anticoncepcionais hormonais (de forma oral, implantada ou injetada). São produzidos com diferentes quantidades e potências de estrogênios sintéticos, progestinas ou ambos, os quais o organismo não metaboliza com facilidade. Trabalham primeiramente mantendo altos níveis de estrogênios no organismo para prevenir a ovulação. Suprimindo com estes sintéticos a presença de hormônios naturais, literalmente estanca a menstruação. O sangramento ocorre, a cada mês, só porque os hormônios sintéticos não são ingeridos por sete dias do ciclo, podendo ser melhor denominado de um “sangramento fugidio”, não menstruação. Não há provas científicas assegurando de que a pílula é segura. De acordo com Nancy Beckham em seu trabalho Menopausa – uma passagem positiva utilizando terapias naturais: “As mulheres que ingerem a pílula têm uma grande tendência a disfunções no fígado e mais alergias. Os níveis de vitamina A podem crescer no sangue, e as vitaminas B12 e C ..... caírem.”
Embora os ensaios iniciais fossem imperfeitos, a primeira geração das pílulas foi amplamente comercializada como um método efetivo, seguro e conveniente de controle da natalidade. Um impacto ao qual, já nos primórdios, pesquisadores como a Dra. Ellen Grant, autora do livro A pílula amarga e a química sexual, avaliou de que os hormônios sintéticos deveriam ter sido retirados do mercado em razão de seus conhecidos efeitos colaterais. De acordo com o Dr. Samuel Epstein do Programa de Prevenção ao Câncer de Mama, dezenas de estudos confirmam efeitos colaterais como o risco de ataques cardíacos, derrames cerebrais, diabetes, doenças da vesícula biliar, câncer de fígado e expondo os tecidos mamários a excessos de estrogênios, eleva dez vezes o risco de câncer de mama, especialmente pelo uso precoce ou prolongado. [8]
Foram propostas alterações, desde o início dos anos sessenta, para se fazer uma segunda geração de pílulas – etinil estradiol – mais segura. Mas, na verdade conecta-se aos receptores estrogênicos naturais na mama, sendo quarenta vezes mais potente do que o estradiol. A pílula combinada também aumenta o risco de doenças da artéria coronária, do câncer de mama e pressão alta. Os efeitos colaterais incluem náusea, vômito, dores de cabeça, flacidez das mamas, aumento de peso, mudanças na libido, depressão, coagulação sangüínea e o aumento de incidência de vaginites. Também mulheres que apresentam quadros de epilepsia, asma, enxaqueca ou doenças cardíacas podem constatar pioras em seus sintomas. Muitos destes efeitos podem persistir muito tempo mesmo após o uso descontínuo da pílula. Além disso, fumar enquanto toma-se a pílula, acentua estes riscos. A terceira geração, implante de pílulas somente com progestinas, também é problemática. São centenas de processos contra o fabricante Norplant já que várias pesquisas demonstram que o produto injetável Depo-Provera, com progestina, aumenta os riscos de câncer de mama. [8]
A TERAPIA DE REPOSIÇÃO HORMONAL – TRH (ESTROGÊNICA).
Talvez nada cause mais confusão entre as mulheres do que a terapia de reposição hormonal, a maior promoção de drogas hormonais depois da pílula. As mulheres na fase da menopausa tornaram-se outro lucrativo mercado para os hormônios sintéticos, agora disponíveis em emplastos e implantes. Um dos mais populares é o Premarin, feito da urina de éguas prenhes.
Proclamado como um ingrediente primário ausente para as mulheres na menopausa, o estrogênio é também fortemente recomendado pela medicina moderna para a prevenção de doenças cardiovasculares e osteoporose. A maioria dos médicos, hoje em dia, adverte as mulheres para os riscos da passagem pela menopausa e para o tempo, os dias da pós-menopausa, sem a proteção do estrogênio. Outras opiniões não podem ser oferecidas. Em razão da TRH (terapia de reposição hormonal) ser oferecida em doses menores do que a pílula, os efeitos colaterais são normalmente muito mais subtis e mais lentos para serem detectados.
As mulheres precisam pensar com muito mais cuidado a respeito de sua decisão quanto à TRH. Mesmo que a maioria dos médicos esteja, sinceramente, preocupada com suas pacientes, muita de sua formação profissional e das informações sobre os produtos, têm diretamente como fonte as indústrias farmacêuticas. Já que a maioria das mulheres não tem uma perfeita consciência a respeito de suas opções, as decisões sobre a menopausa podem ficar bem mais difíceis. No seu livro O que o seu médico não pode lhe contar a respeito da menopausa, o Dr. John Lee compilou uma lista de efeitos colaterais que podem resultar da opção pela reposição hormonal. Incluem: aumento do risco de câncer endometrial, aumento da gordura corporal, retenção de sal e líquidos, depressão e dores de cabeça, descontrole da presença de açúcar no sangue (hipoglicemia), perda de zinco e retenção de cobre, redução dos níveis de oxigênio em todas as células, adensamento da bile e promoção de doenças da vesícula biliar, aumento das probabilidades de fibrocistos mamários e fibróides uterinos, interferência na atividade da glândula tireóide, diminuição da libido, excessiva coagulação sangüínea, redução do tono vascular, endrometriose, cãibras uterinas, infertilidade e limitação da função osteoclástica (necessária para a saúde e a reconstituição óssea). De acordo com o Dr. Epstein, a reposição hormonal também promove os cânceres de mama, de fígado e de ovários, ganho de peso e outros sintomas. Ele recomenda soluções não hormonais: se empregada a TRH, tomar baixas doses somente por pouco tempo evitando o fumo e as bebidas alcoólicas. [12]
O intenso efeito formador de estrogênio pelo álcool pode ser desastroso, especialmente para mulheres com a TRH. Vários estudos demonstram que o álcool aumenta o risco de câncer de mama. Mesmo meia taça de vinho pode dobrar o estrogênio no sangue da mulher em TRH e, surpreendentemente, aumentando o risco de câncer de mama. [8]
OUTRAS DROGAS.
Outras drogas podem também ser hormonalmente ativas: Tamoxifen, por exemplo, e seu correlato Raloxifene, que são fármacos hormonais sintéticos indicados para a prevenção de câncer de mama, mas ensaios demonstraram sérios riscos de ambos efeitos, estrogênico e antiestrogênico. Vários anti-hipertensivos, drogas para diminuição de colesterol, antibióticos, antiácidos, drogas psicoterapêuticas, drogas para o câncer e a maconha podem também ser preocupantes. [8]
XENOESTROGÊNIOS (Pseudoestrogênios).
A expressão “xenoestrogênios” é aplicada livremente a uma série de substâncias químicas tóxicas produzidas pelo homem que confundem os receptores celulares dos estrogênios no organismo, interferindo nas mensagens bioquímicas naturais. Podem ser compostos tipo estrogênios ou terem a habilidade de mimetizar ou bloquear a atividade dos hormônios naturais. Podem também alterar a forma como os hormônios e seus receptores protéicos são elaborados, metabolizados e em sua atuação. Pesquisas profundas revelam uma situação alarmante gerada pela dispersão planetária destes mimetizadores hormonais.
Em razão de se degradarem tão lentamente, espalharam-se por todo o planeta tanto pelo ar como pelas águas, passando integrar os tecidos vivos. Atualmente contaminam todos os ecossistemas e os organismos vivos. Continuarão assim por décadas e décadas. Dificilmente excretadas, são lipossolúveis, acumulando-se nos tecidos gordurosos, no cérebro, no aparelho reprodutor e outros órgãos. Grandes volumes destas substâncias biomagnificam na cadeia alimentar com as piores concentrações no seu topo, onde estão os seres que se alimentam de animais como os humanos e outros mamíferos, além de pássaros e répteis. Numa espécie de gaivota da região dos Grandes Lagos, entre EUA e Canadá, por exemplo, a família dos xenoestrogênios PCB’s encontra-se em concentrações, com sérios resultados, vinte cinco milhões de vezes acima daquelas encontradas nos sedimentos. [3]
Alterando as funções principais dos estrogênios e androgênios, podem desencadear uma torrente de excepcionalidades na saúde da reprodução e do desenvolvimento, evidenciadas por pesquisas feitas com cobaias de laboratório, em culturas de células, na vida selvagem e com os humanos. Theo Colborn e os outros autores do livro O Futuro Roubado, identificaram 51 famílias de produtos sintéticos que geram distúrbios no sistema endócrino, ou hormonal, incluindo 209 PCB’s, 75 dioxinas e 135 furanos. Estão conectados não só com a descoberta da queda de 50% no número de espermatozóides humanos, globalmente, entre os anos de 1938 e 1990, mas também às alterações no comportamento sexual, à depressão imunológica, a deformidades genitais, a canceres de mama, ovários, útero, de próstata e testicular além de desordens neurológicas. A doença fibrocística da mama, a síndrome policística ovariana, endometriose, fibróides uterinos e doenças inflamatórias pélvicas também estão sob suspeita. Estes problemas podem ser influenciados pelas exposições, crônicas ou de desenvolvimento, através do ciclo da vida.
As conseqüências potenciais desta superexposição pipocarão especialmente sobre as futuras gerações. Os embriões e os fetos cujos crescimento e desenvolvimento são altamente controlados pelo sistema endócrino, recebem os contaminantes na fase pré-natal ainda no ovo (anfíbios, répteis e pássaros) ou no útero (mamíferos). Mesmo que adultos expostos não apresentem nenhum efeito deletério, seus descendentes poderão apresentar, em toda sua vida, anormalidades reprodutivas ou em sua saúde. Além do que foi citado acima, efeitos incluem masculinização das fêmeas e feminização dos machos (redução no tamanho do pênis e dos testículos) além da retenção dos testículos e da alteração na densidade e na estrutura dos ossos. A exposição de recém nascidos, como os nenês lactentes, concentra-se além dos limites do corpo.
Os xenoestrogênios são na maioria das vezes gerados pela indústria petroquímica e, desafortunadamente para nossa saúde, os produtos petroquímicos estão, hoje em dia, por todos os lugares deste planeta. Máquinas, carros e mesmo algumas usinas termoeléctricas, movem-se com petroquímicos como a gasolina, o diesel, o gás natural e similares. Muitos dos mimetizadores hormonais são organoclorados produzidos pela reação do gás cloro com hidrocarbonetos do petróleo. São utilizados em plásticos, agrotóxicos, solventes, agentes de branqueamento (para roupas e outras), refrigeração e em outros produtos químicos. Milhares são subprodutos do tratamento de água, do branqueamento do papel e da incineração de produtos clorados. Milhões de produtos, incluindo vários plásticos (polivinil cloreto/PVC e policarbonatos/PC, ambos encontrados em mamadeiras para nenês, brinquedos infantis, filmes transparentes para embalar alimentos e garrafas de água mineral), PCB’s (nt.: policloretos bifenilos ou “ascarel”), medicamentos, roupas, alimentos, alvejantes domésticos, desodorizantes de ar, produtos de higiene pessoal (cosméticos, perfumes, antiperspirantes, sabonetes, pastas dentifrícias e higienizadores bucais), agrotóxicos e herbicidas (como DDT, dieldrin, aldrin, hepacloro, etc.) também contém ou são feitos dos petroquímicos. Muitos de nós trabalhamos ou vivemos em áreas altamente contaminadas onde os efeitos sinérgicos podem apresentar doses “seguras” (aceitáveis) de diferentes substâncias químicas, medicamentos, radiações, freqüências eletromagnéticas e outras, e que são milhares de vezes mais tóxicas quando estão juntas.
Dezesseis substâncias sintéticas persistentes (conhecidas de “POP’s”- poluentes orgânicos persistentes) foram identificadas para ação prioritária da ONU. Embora o Canadá tenha banido muitos deles décadas atrás (DDT, PCB’s e outros conhecidos por causarem teratogênese - lesões em fetos -, colapso na reprodução e a quase extinção de ampla variedade de espécies), continuam a ser manufaturados e empregados em todo o planeta. Pelo menos seis – PCB’s, dioxinas, furanos, hexaclorobenzeno (HCB), lindano e cadeias curtas de parafinas cloradas – são ainda geradas, produzidas e utilizadas no Canadá. A água potável pode estar contaminada por outro composto comprovadamente estrogênicos o nonilfenol (nt.: em inglês: nonylphenol, sigla: NP) e o endosulfan que continuam sendo utilizados em plásticos e agrotóxicos, além de estarem presentes na composição também de detergentes líquidos domésticos e de lavanderias, alvejantes multi-uso, sabonetes e shampoos. Compostos mimetizadores de hormônios como os ftalatos são utilizados como plastificantes no PVC, em tinta para escrever/imprimir, para pintar e em colas. O lixo plástico pode ser a fonte mais importante da presença do bisfenol-A – estabilizante tóxico empregado no PVC – nos efluentes líquidos lixiviados pelos aterros de lixo. E será mais terrível ainda se este lixo for incinerado.
As cinzas voláteis originárias das indústrias, dos incineradores de lixos domésticos ou resíduos perigosos, têm altas quantidades de mimetizadores hormonais e cancerígenos como a dioxina (uma das mais violentas) além de chumbo, mercúrio e cádmio, estes também mimetizadores estrogênicos. Estas cinzas depositam-se sobre as plantas que comemos além de contaminar os animais domésticos e os peixes, concentrando substâncias tóxicas no ser humano. A poeira doméstica, velhas tintas e a água parada em tonéis são outras fontes comuns de chumbo. Tal qual como com os petroquímicos, a queima de combustíveis fósseis libera mercúrio e cádmio. Mercúrio pode também ser um sério perigo em obturações de dentes. Dois por cento da população de cidades, acima de um milhão de habitantes, têm níveis dez vezes maiores de mercúrio no sangue, no limiar de gerarem efeitos neurológicos.
Nossa alimentação é um dos caminhos mais inconscientes quanto à contaminação por mimetizadores hormonais. O alimento processado, na maioria das vezes com excesso de açucares e gorduras hidrogenadas, enfraquece o sistema imunológico e atinge, hoje, 80% de nosso suprimento alimentar. Embalagens, conservantes, colorantes e flavorizantes artificiais, podem ser todos perigosos. Por exemplo, "Red Dye” nº. 3, um poderoso cancerígeno, é amplamente empregado em todo o mundo. Envases plásticos, copos de poliestireno (PS), filmes para embalar alimentos ou revestimento plástico interno de latas, podem conter PVC’s, alquifenóis, nonilfenóis, bisfenol-A e ftalatos. Todos são conhecidos estrogênios sintéticos (xenoestrogênios) que migram para o alimento quando aquecido ou guardado por longos períodos. Um destes ftalatos, sigla DEHP ou DOP, é encontrado em alguns filmes transparentes para embalar alimentos. Estudos feitos pela indústria e pelo governo dos EUA conectaram o DEHP e efeitos sobre o desenvolvimento em animais. Em alguns filmes plásticos que embalam queijos nos EUA foram encontrados níveis que excedem o limite governamental num fator de 300.000 vezes. O DEHP pode também estar contaminando outros alimentos embalados com filmes transparentes, especialmente aqueles com altos teores de gordura como carnes. O plastificante, enrijecedor plástico, bisfenol-A, encontrado no policarbonato de mamadeiras infantis, foi identificado em um relatório do governo dos EUA de 1997, como um disruptor endócrino químico que se libera, incontestavelmente, da resina policarbonato para o líquido quando aquecido (pesquisas minuciosas e replicadas encontraram efeitos biológicos mesmo em níveis extremamente baixos). Um trabalho feito em 1999 pela Consumer’s Union/União dos Consumidores difundiu esta descoberta da FDA/Food and Drugs Administration–Administração de Fármacos e Alimentos dos EUA, conclamando de que os pais deveriam procurar mamadeiras feitas com quaisquer outros materiais que não a resina de policarbonato. Ao mesmo tempo, doze grupos peticionaram para que a FDA e as indústrias de plástico eliminassem ou reduzissem drasticamente a exposição de crianças a esta resina. [8]
Também a produção agrícola apresenta riscos. Numa média de 25% (talvez mais) de toda a produção regular, no Canadá, plantada e importada, constata-se resíduos de agrotóxicos, declara o relatório de 1999 do novo Comissário Canadense do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável. Muitos são ou contém mimetizadores hormonais. O World Wildlife Fund Canada (WWFC) questionou o Ministro da Saúde canadense, Allan Rock, para agir em relação aos doze agrotóxicos considerados mimetizadores hormonais. A maioria está registrada para culturas alimentícias e alguns para uso interno em residências, escolas e creches. Numerosas áreas, no Canadá, estão severamente contaminadas pelos produtos agrícolas, pelos empregados em campos de golfe e pelos de uso corrente em cosméticos.
Alimentos de origem animal são a maior fonte de substâncias hormonalmente ativas em nossos alimentos e nos lençóis freáticos. A gordura animal e de laticínios tem alta concentração – carne bovina e produtos lácteos são os piores com altos resíduos de DDT e de outros agrotóxicos organoclorados além de antibióticos, drogas veterinárias e hormônios sexuais de estímulo de crescimento. Hormônios implantados na orelha de praticamente todos os animais de corte são totalmente sem regulamentação. Resíduos 300 vezes acima dos limites legais, comumente encontrados em carne, vem via de regra destes implantes, aplicados ilegalmente no músculo do animal para resultados mais rápidos. O hormônio de crescimento “rBGH” em gado leiteiro produz altas quantidades do “fator de crescimento tipo insulina” que encoraja a divisão celular e a virulência do câncer de mama. No entanto não consta nos rótulos dos produtos dos EUA contaminados com este hormônio. [8] (Rotular está fora da regulamentação por um acordo com a Monsanto, produtora do “rBGH”. Por ação de cidadãos, este produto foi, temporariamente, banido no Canadá). Os agrotóxicos acumulam-se na gordura animal. Por exemplo: cada quinze libras (nt.: cada libra representa 453,9 g.) de grãos produz uma libra de carne, concentrando assim a contaminação por agrotóxicos. Nitratos presentes em presunto e bacon transformam-se em potentes cancerígenos pela formação de nitrosaminas no corpo. Peixes originários da pesca industrial estão contaminados com uma vasta gama de pseudo-estrogênios. Por exemplo, todos os salmões dos Grandes Lagos, entre Canadá e EUA, apresentam, nos últimos anos, dilatações em suas glândulas tiróides. [6]
Tomando isto como um degrau à frente, os hormônios sintéticos também entram nos lençóis hídricos através da urina das mulheres e daí na cadeia alimentar. Isto também elevou nossos níveis de exposição aos estrogênios ambientais.
REVERTENDO A DOMINAÇÃO ESTROGÊNICA.
O Dr. John Lee acha que muitas mulheres estão sofrendo os efeitos em função do excesso de estrogênios ou “dominação estrogênica”. Ele observa que o stress, deficiências nutricionais, xenoestrogênios e estrogênios sintéticos causam um desbalanceamento entre estrogênio e progesterona. Esta dominância estrogênica significa que o estrogênio começou a sombrear os outros atores, criando uma dissonância bioquímica. Obviamente, uma solução fundamental é reduzir o excesso de estrogênio nas fontes se elas forem drogas sintéticas ou xenoestrogênios. Alimentar-se para obter equilíbrio hormonal é outra alternativa, discutida abaixo. Entretanto, o Dr. Lee está também disposto a auxiliar mulheres a equilibrarem os efeitos da dominação estrogênica através do uso de um creme dermal de progesterona natural que pode corrigir este problema: a deficiência de progesterona. Auxilia a aliviar sintomas típicos da menopausa como calorões e secura vaginal. A progesterona natural, um derivado do colesterol, é feito de inhames selvagens mexicanos ou da soja cujos ingredientes ativos têm a mesma estrutura molecular que a progesterona própria do organismo humano (nt.: nos últimos anos, o Dr.Lee constatou que a soja não apresenta as mesmas características do que o inhame, não seria bio-idêntica e sim mimetizadora natural. Assim reavalia suas recomendações. Ver sites do Dr. John Lee na internet). Desconhece-se efeitos colaterais, são não-patenteáveis e baratas. (Utilizar o creme sob supervisão de um fornecedor habilitado em saúde. Questione a firma para estar segura de que o produto contém progesterona, algumas marcas não a contêm).
É interessante observar-se de que na América do Sul e Ásia onde as mulheres comem estes inhames selvagens ou soja, a expressão “calorões” não existe em suas línguas locais enquanto a metade de todas as mulheres da América do Norte (tipo ocidentais), na fase da menopausa, sofre deste problema. As mulheres japonesas têm a metade de fraturas ósseas por causa da osteoporose em relação às norte-americanas (também comem menos proteína e fazem mais trabalhos físicos com esforço). Estudos preliminares sugerem que a soja pode auxiliar na retenção da massa óssea. Dr. Lee acredita que o uso da progesterona natural em conjunção com mudanças na dieta e no estilo de vida podem não só estancar a osteoporose mas revertê-la em mulheres com setenta anos ou mais.
Comer de forma correta pode realmente ser um dos nossos melhores escudos de defesa.
ALTERNATIVAS SADIAS - FITOESTROGÊNIOS.
Plantas estrogênicas, chamadas de fitoestrôgenas, possuem compostos naturais que são encontrados em centenas de plantas alimentícias incluindo perenes e anuais que podem atuar como estrogênios naturais no organismo com o auxílio da flora bacteriana intestinal, de enzimas, vitaminas e minerais. Em torno de vinte fitoestrôgenos foram identificados em plantas como o trigo, a aveia, centeio, cevada, arroz e soja; maçã, cereja, ameixa e romã; batata, cenoura, ervilha, feijão; salsinha, sálvia, alho e café. Efeitos variam enormemente dependendo da idade, do sexo e outros fatores. Fetos e bebês podem ser bastante sensíveis, negativamente, ao excesso de plantas estrogênicas. Os adultos podem auxiliar a redução nos riscos de saúde quanto aos xenoestrogênios e aos sintéticos, diminuindo o período, no ciclo de vida, a exposição ao estrogênio. Os fitoestrogênios competem com os outros para se conectarem aos receptores estrogênicos bem como influenciam, positivamente, no metabolismo estrogênico. Como os hormônios naturais, os fitoestrogênios são facilmente metabolizados por nossos organismos e atravessam nossos sistemas orgânicos, em um curto espaço de tempo.
Uma dieta normal utilizando fitoestrogênios parece constituir-se numa proteção, em humanos, contra canceres de mama e do sistema reprodutivo além de poderem ser empregados como tratamento para a menopausa e a osteoporose. Atuam como estrogênios fracos e parecem produzir nas mulheres tanto os efeitos estrogênicos na fase pós-menopausa e como os de antiestrogênio na fase pré-menopausa. Fitoestrogênios têm então habilidade para atuarem como “equilibradores”, elevando e baixando os níveis de estrogênio e trocar um estrogênio forte por um fraco. Efeitos sobre o desenvolvimento do pré-natal ou do neonato estão pouco claros, sugerindo precaução quanto a fórmulas infantis feitas de soja, bem como a certos suplementos nutricionais, ervas e mesmo a alguns tipos de alimentos durante a gravidez.
As isoflavonas da soja são uma das fontes de fitoestrogênios melhor estudadas. Uma de suas formas, a “genistein”, demonstrou ter atividade citostática contra uma série de células de câncer de mama humanas in vitro e suprimiram, em recentes pesquisas, tumores mamários em ratas. Produtos feitos de soja presentes na dieta alimentar, na Ásia, podem ser a razão para as baixas incidências de câncer de mama. Uma pesquisa feita em 1992 demonstra que mulheres japonesas, com uma dieta rica em baixas calorias e soja, tinham mil vezes mais fitoestrogênios em sua urina do que mulheres norte-americanas e finlandesas. A soja também contém proteínas de alta qualidade, é fonte de ácidos graxos ômega-3, cálcio e anti-oxidantes para proteger as células dos danos causados pelos radicais livres, altamente cancerígenos. Os peptídeos da soja podem estimular o sistema imunológico, auxiliando o organismo a lutar contra enfermidades. Numerosas pesquisas revelam que a população que se alimenta com produtos de soja tem menores riscos de desenvolver câncer de mama, pulmão, cólon e próstata, do que aquela que não os utiliza. Outras já atestam as propriedades que a soja tem de diminuir o colesterol, principalmente naquelas pessoas com altos níveis. A proteína da soja vai mais facilmente para os rins do que a proteína animal além de prevenir ou diminuir danos aos rins em pessoas com função renal desequilibrada. Esteja segura de adquirir somente soja produzida organicamente em vez de outras, transgênicas ou pulverizadas com agrotóxicos. Atenção, observe que o shoyu, a proteína de soja, o tofú, a carne de soja e o óleo poderão não ser boas fontes, em razão de como foram processados.
Fonte: Nosso Futuro Roubado
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Tradução livre de Luiz Jacques Saldanha, fev/2002, revisada em jan.2004.
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