"(…) gestos femininos bonitos sempre,
a delicadeza com que as mulheres
tocam nos objetos,
a harmonia dos dedos:
somos pesados e sem graça,
nós os homens, ao pé delas.
Pesados, brutos, canhestros:
não possuímos seja o que for
de ave ou de nuvem,
a nossa carne é densa e gaguejante.
Dá-me uma paz de eternidade
ver uma mulher numa casa,
o modo como o seu corpo
habita o espaço,
a forma como vestem,
de si mesmas, os compartimentos,
com um simples passo,
um simples olhar.
E depois uma espécie de
inocência primordial,
de leveza habitável:
devo ter sido muito feliz
na barriga da minha mãe,
por dentro da sua voz,
do seu sangue.”
a delicadeza com que as mulheres
tocam nos objetos,
a harmonia dos dedos:
somos pesados e sem graça,
nós os homens, ao pé delas.
Pesados, brutos, canhestros:
não possuímos seja o que for
de ave ou de nuvem,
a nossa carne é densa e gaguejante.
Dá-me uma paz de eternidade
ver uma mulher numa casa,
o modo como o seu corpo
habita o espaço,
a forma como vestem,
de si mesmas, os compartimentos,
com um simples passo,
um simples olhar.
E depois uma espécie de
inocência primordial,
de leveza habitável:
devo ter sido muito feliz
na barriga da minha mãe,
por dentro da sua voz,
do seu sangue.”
António Lobo Antunes,
in “Eu, às vezes”
in “Eu, às vezes”
(Visão, Dez. 2007)
Um comentário:
Aquilo que não se explica, simplesmente existe na presença feminina... que faz toda diferença de modo sutil, essencial ao coração! Lindo texto!
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